terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Agricultura vira foco de espionagem chinesa

Por JOHN ELIGON e PATRICK ZUO
KANSAS CITY, Missouri - O caso veio à tona em maio de 2011, quando o administrador de uma fazenda de pesquisas da DuPont no Estado de Iowa percebeu que havia um homem ajoelhado escavando o campo.
O homem, Mo Hailong, que estava com seu colega Wang Lei, disse que trabalhava para a Universidade de Iowa. Quando o administrador fez uma pausa para atender o celular, os dois saíram em disparada e fugiram.
Depois disso, seguiu-se quase um ano em que o FBI vigiou Mo e seus parceiros. Todos eles, exceto um, trabalhavam para o Beijing Dabeinong Technology Group ou para sua subsidiária Kings Nower Seed. Isso resultou na prisão de Mo, em dezembro, e no indiciamento de outros cinco cidadãos chineses pela acusação de furto de segredos comerciais,.
Há muito tempo, a China está implicada em esforços de espionagem envolvendo tecnologia da aviação, fórmulas de tintas e dados financeiros. Mas o caso de Mo -que foi recentemente transformado em réu em Des Moines, declarou-se inocente e permanece sob custódia- e de outro, separado, ocorrido no ano passado no Kansas, sugerem que a área agrícola está se tornando um alvo cobiçado.
É algo que analistas do setor temem que possa afetar a vantagem competitiva de fazendeiros e também das grandes empresas agrícolas americanas.
As autoridades disseram que os réus no caso Mo visitaram campos de teste de sementes em Iowa e Illinois que eram usados pela Pioneer, Monsanto e LG Seeds, grandes empresas do setor agrícola. Eles compraram um terreno para fazer seus próprios testes em Illinois, de acordo com a queixa na Justiça, e ocultaram as sementes furtadas.
As sementes que eles buscavam são chamadas de linhagem pura, o que significa que elas vêm de plantas de milho autopolinizadas. As plantas de linhagem pura são posteriormente cruzadas com outras de linhagem pura para a criação de sementes híbridas que depois são vendidas a fazendeiros -e elas são produzidas para serem resistentes a secas e pragas.
Uma variedade de linhagem pura leva de cinco a oito anos de pesquisas e pode custar de US$ 30 a 40 milhões para ser desenvolvida, segundo promotores federais. Uma empresa ou fazendeiro pode replantar uma semente de linhagem pura furtada e usar as novas sementes para cruzar com linhagens puras separadas, produzindo um híbrido -atalho que evita anos de dispendiosas pesquisas.
O advogado de Mo nega que seu cliente tenha feito algo de errado.
No outro caso envolvendo sementes, Zhang Weiqiang, de Manhattan (Kansas), desenvolvedor de variedades para a Ventria Bioscience, empresa do ramo biofarmacêutico com sede no Estado do Colorado, e Yan Wengui, de Stuttgart (Arkansas), pesquisador geneticista para o Departamento de Agricultura dos EUA, são acusados de cederem a propriedade de sementes de arroz para pesquisadores da China, seu país natal.Zhang e Yan foram presos em dezembro.
Sementes estrangeiras compõem 80% do mercado chinês, disse Guo Ming, consultora especializada em produção de milho para uma empresa de agronegócio com sede em Pequim.
Os chineses não desenvolvem um híbrido de milho importante desde 2001.
Analistas dizem que um dos problemas é a fragmentação do setor de sementes na China, o que tem fomentado os roubos dentro do mercado, afirma Guo.
"Algumas empresas de comercialização de sementes apenas iam às fontes da criação para furtar sementes", disse ela.
"Algumas empresas produtoras de sementes terceirizavam a produção para agricultores, mas quando as sementes eram colhidas, os agricultores não as vendiam de volta para a empresa que as produziu porque as companhias que comercializam sementes pagam mais."
Essas tradings vendiam as sementes obtendo um lucro exorbitante com um produto para o qual não tinham inveastido nada em seu desenvolvimento. "Essa é a cultura aqui", afirmou.
Fonte: NYT, 18.02.2014
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